Resenha Do Filme O Mal Que Nos Habita - Netflix
"O Mal Que Nos Habita" (título original "Cuando Acecha la Maldad") é um filme de terror argentino que tem chocado e perturbado o público com sua abordagem visceral e original do gênero. Prepare-se para uma experiência que vai além dos sustos, mergulhando em um horror existencial e social.
O Contexto de um Horror Contagioso:
O filme nos transporta para uma zona rural isolada da Argentina, onde os irmãos Pedro e Jaime se deparam com uma descoberta aterrorizante: um corpo horrivelmente mutilado. A investigação os leva a uma fazenda vizinha, onde encontram um homem "apodrecido", possuído por uma entidade demoníaca e prestes a "dar à luz" o mal.
A grande inovação aqui é a forma como a possessão é tratada: Não como um evento isolado, mas como um contágio, que se espalha como uma doença virulenta. Afeta pessoas, animais e até o ambiente, seguindo regras misteriosas que, ao serem quebradas, amplificam a maldição. As tentativas desesperadas dos personagens de se livrarem do "encarnado" (o possuído) apenas pioram a situação, espalhando a praga de forma incontrolável e devastadora.
Apesar de ser uma obra sobrenatural, o diretor Demián Rugna revelou uma inspiração aterradora na vida real: o uso abusivo de agrotóxicos em áreas rurais da Argentina, causando doenças graves como o câncer em comunidades marginalizadas. Ele transformou essa "contaminação" física em uma "contaminação" demoníaca, usando o horror como uma poderosa metáfora para a negligência e as consequências desastrosas de problemas ignorados.
A História e a Atmosfera Visceral:
A narrativa de "O Mal Que Nos Habita" é uma descida implacável ao inferno, onde a esperança é uma miragem. Pedro e Jaime, ao tentarem conter o mal, ironicamente, o espalham ainda mais. A história explora o desespero de uma comunidade isolada que precisa lidar com uma ameaça indomável, onde as soluções tradicionais, como exorcismos, são ineficazes.
Rugna constrói uma atmosfera de tensão constante e desespero de forma magistral. O uso da iluminação sombria, a sonoplastia perturbadora (e a ausência dela em momentos chave) e a direção de arte transformam a paisagem rural, antes bucólica, em um cenário claustrofóbico e aterrorizante. O filme é brutalmente gráfico e não economiza no gore, mostrando as consequências físicas e psicológicas devastadoras do mal, o que pode ser chocante para alguns espectadores, mas intensifica a mensagem do filme.
Atuações e a Brutal Perda de Esperança:
Os atores, especialmente os que interpretam Pedro e Jaime, entregam performances cruas e convincentes. Eles transmitem a frustração, o medo paralisante e a exaustão diante de uma ameaça que se mostra invencível. Não há heróis tradicionais nesta história; os personagens são pessoas comuns, lutando por sua sobrevivência em uma situação extraordinária, o que torna a experiência ainda mais crua e palpável.
O Que Podemos Aprender com Este Pesadelo?
"O Mal Que Nos Habita" nos força a confrontar algumas verdades incômodas:
A Futilidade do Controle: O filme sugere que, diante de um mal de natureza tão virulenta e inexorável, as tentativas humanas de controle são muitas vezes inúteis e podem até agravar a situação. Não há um triunfo do bem; a luta é contra uma força avassaladora que destrói tudo em seu caminho.
As Consequências da Negligência: A metáfora subjacente da contaminação ambiental é um ponto crucial. O filme serve como um espelho de como problemas não tratados – sejam eles sociais, ambientais ou pessoais – podem crescer exponencialmente, consumindo tudo e todos ao redor.
A Natureza Ontológica do Mal: Diferente de um mal moralista que pune pecadores, o filme apresenta uma visão onde o mal é ontológico, ou seja, é uma parte constitutiva da própria existência, que espreita, se espalha e corrompe a própria realidade. Não é algo a ser exorcizado no sentido tradicional, mas uma força que devora.
A Ausência de Esperança: Um dos aspectos mais impactantes é a quase total ausência de esperança. Não há um final feliz ou uma redenção fácil. A mensagem é sombria e pessimista, mostrando que, às vezes, o mal simplesmente prevalece, deixando um rastro de destruição e desolação.
Um Marco no Terror Latino-Americano:
"O Mal Que Nos Habita" não é apenas um filme de terror, mas uma experiência visceral que se destaca na nova onda de terror latino-americano. Ele oferece uma perspectiva única do horror, que se diferencia do cinema de Hollywood ao explorar temas sociais e regionais com uma intensidade perturbadora. Sua recepção tem sido amplamente positiva, elogiando a originalidade e a capacidade de chocar e provocar reflexão.
Se você busca um filme de terror que vai além dos clichês, que te faz pensar e que entrega um horror cru e sem concessões, "O Mal Que Nos Habita" é uma pedida obrigatória. Mas esteja avisado: este não é um filme para os fracos de coração.
Você já assistiu "O Mal Que Nos Habita"? Qual a sua maior impressão sobre ele?
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